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Frentes de Oposição / Carne e
ASSOCIAÇÃO JESSE DE ARAÇATUBA
“JESUS É O SENHOR”
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TRÊS FRENTES DE OPOSIÇÃO AO PLANO DE DEUS
2º) Carne(e)
 
“Para o apóstolo não se trata de discriminar e condenar o corpo que, juntamente com a alma espiritual, constitui a natureza do homem e a sua subjetividade pessoal. Ele quis tratar sobretudo das obras, ou melhor, das disposições  estáveis – virtudes e vícios – moralmente boas ou más, que são fruto da submissão (no primeiro caso) ou, pelo contrário, de resistência ( no segundo caso)  à ação salvífica do Espírito Santo. Por isso o apóstolo escreve: ‘se portanto, vivemos pelo Espírito, caminhemos também pelo Espírito’           (Gl 5,25)”.          João Paulo II, DeV 55
 
       Para terminarmos nossa meditação sobre a carne e sua oposição ao Espírito, vejamos o que nos diz a Palavra de Deus, e, Rm 8, 5-9;13-14:
 
Os que vivem segundo a carne, gostam do que é carnal. Os que vivem segundo o espírito, apreciam o que é espiritual.  Ora, a aspiração da carne é a morte, enquanto a aspiração do espírito é a vida e a paz.  Pois o desejo da carne é hostil a Deus. A carne não se sujeita e nem pode sujeitar-se à lei de Deus. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus.  Mas vós não viveis segundo a carne mas segundo o espírito, se de verdade o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não é de Cristo. Portanto, irmãos, não somos devedores da carne para vivermos segundo a carne.  De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer, mas se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis.  Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus.”
       Vejamos também Gl 5,16-25:
 
Digo-vos, pois: Andai em espírito, e não satisfareis a concupiscência da carne. Porque a carne tem tendências contrárias aos desejos do espírito e o espírito possui desejos contrários às tendências da carne. Ambos são contrários um ao outro a ponto de não fazerdes o que quereis. Mas, se vos guiais pelo espírito, não estais sob a Lei.  Ora, as obras da carne são manisfestas, a saber: prostituição, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias, ódios, discórdias, ciúmes, iras, rixas, dissensões, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e outras como estas, das quais vos previno como fiz antes, pois quem praticar tais coisas não será herdeiro do reino de Deus.  Os frutos do espírito são: caridade, alegria, paz, longanimidade, afabilidade, bondade, fidelidade, mansidão, continência. Contra estes não há Lei.  Os que são de Cristo Jesus, crucificaram a carne com as paixões e concupiscências.  Se vivemos do espírito, andemos também segundo o espírito”.
 
       Paulo nos traz estes dois textos, focando em Romanos, a resposta à pergunta que ele mesmo faz em Rm 7,24: “Infeliz de mim! Quem me livrará deste corpo de morte?”.
            Só pelo Espírito Santo e a Palavra, que é o poder de Jesus atuando na Terra, podemos nos livrar da força da carne. Em Gálatas, foca o relacionamento, como um serviço aos cristãos, que devem ser baseados não nas obras da carne (o que se deve evitar), mas do Espírito (o que se deve fazer). Trata-se de um modo de vida permanente, não atos esporádicos, ou individuais. Este é o modo de vida de Paulo, que se faz escravo de todos para que possa de algum modo ganhar alguns para Cristo.
       Para que possamos entender esta diferença de ‘naturezas’, temos uma explicação excelente no livro “Imitação de Cristo”, que aliás, é todo ele um estudo de como se deixar as obras de carne e viver somente do Espírito. O trecho que vamos examinar está no Livro Terceiro, capítulo 54, e trata “Dos diversos movimentos da natureza e da graça”.
 
1) Jesus:Filho, observa com diligência os movimentos da natureza e da graça: pois são muito opostos uns aos outros e tão sutis que só a custo podem ser discernidos, mesmo por um homem espiritual e interiormente iluminado. Todos, sim, desejam o bem e intentam algum bem nas suas palavras e obras: por isso se enganam muitos com a aparência do bem. A natureza é astuta; a muitos atrai, enreda e engana, e não tem outra coisa em mira senão a si mesma. Mas a graça anda com simplicidade, evita a menor aparência do mal, não usa enganos, e tudo faz puramente por Deus, no qual descansa como em seu último fim.
 
2)   A natureza tem horror à mortificação, não quer ser oprimida, nem vencida, nem sujeita, nem submeter-se voluntariamente a outrem. A graça, porém, aplica-se à mortificação própria, resiste à sensualidade, quer estar sujeita, deseja ser vencida e não quer usar da própria liberdade: gosta de estar sob disciplina,não cobiça dominar sobre outrem, mas quer viver, ficar e permanecer sempre debaixo da mão de Deus, sempre pronta, por amor de Deus, a se curvar humildemente a toda a criatura humana. A natureza trabalha por seu próprio interesse e só atenta no lucro que de outrem lhe pode advir. A graça, porém, pondera não o que lhe seja útil ou cômodo, mas o que há muitos seja proveitoso. A natureza gosta de receber honras e homenagens; a graça, porém, refere fielmente a Deus toda a honra e glória.
 
3)   A natureza teme a confusão e desprezo; mas a graça alegra-se em sofrer injúrias pelo nome de Jesus. A natureza aprecia a ociosidade e o bem-estar do corpo; a graça, porém, não pode estar ociosa e abraça com prazer o trabalho. A natureza gosta de possuir coisas esquisitas e lindas e aborrece as vis e grosseiras; mas a graça se compraz nas simples e modestas, não despreza as ásperas, nem recusa-se a vestir-se de hábito velho. A natureza cuida dos bens temporais, alegra-se por um lucro pequeno, entristece-se por um prejuízo e irrita-se com uma palavrinha injuriosa. A graça, porém, cuida das coisas eternas, não se apega às temporais, não se perturba com a sua perda, nem se ofende com palavras ásperas; porquanto pôs o seu tesouro e sua glória no céu onde nada perece.
 
4)   A natureza é cobiçosa, antes quer receber  do que dar; gosta de ter coisas próprias e particulares. Mas a graça é generosa e liberal, foge das singularidades, contenta-se com pouco e considera “maior felicidade o dar do que o receber” (At 20,35). A natureza inclina-se para as criaturas, para a própria carne, para as vaidades e passatempos. Mas a graça nos conduz a Deus e às virtudes, renuncia às criaturas, foge do mundo, detesta os apetites carnais, restringe as vagueações e peja-se de aparecer em público. A natureza gosta de ter qualquer consolação exterior que deleite os sentidos. A graça, porém, soem Deus procura consolo e se delicia no sumo bem, mais que em todas as coisas visíveis.
 
5)   A natureza tudo faz para seu próprio interesse e proveito, nada sabe fazer de graça, mas espera sempre pelo bem que faz, receber outro tanto ou melhor em elogios ou favores e deseja que se faça grande caso de seus feitos e dons. A graça, porém, não busca nenhuma coisa temporal, nem deseja outro prêmio, senão Deus só, e do temporal não deseja mais do que quanto lhe possa servir para conseguir a vida eterna.
 
6)   A natureza preza-se de muitos amigos e parentes, ufana-se de sua posição elevada e linhagem ilustre, procura agradar aos poderosos, lisonjeia os ricos, aplaude os seus iguais. A graça, porém, ama os próprios inimigos, não se gaba do grande número de seus amigos, não faz caso de posição e nobreza, se lhes não vê unida maior virtude. Favorece mais ao pobre que ao rico, tem mais compaixão do inocente do que do poderoso, alegra-se com  o sincero, e não com o mentiroso. Estimula sempre os bons a maiores progressos, para que se assemelhem, pelas virtudes, ao Filho de Deus. A natureza logo se queixa da penúria e do trabalho. A graça sofre com paciência a pobreza.
 
7)   A natureza atribui tudo a si, em proveito seu peleja e porfia. A graça, porém, atribui tudo a Deus, de quem tudo dimana como de sua origem; nenhum bem atribui a si com arrogante presunção, não questiona, nem prefere a sua opinião a dos outros, mas em todo juízo e parecer se sujeita à sabedoria eterna e ao divino exame. A natureza deseja saber segredos e ouvir novidades, quer exibir-se em público e experimentar muitas coisas pelos sentidos; deseja ser conhecida e fazer aquilo donde lhe resultem louvor e admiração. A graça não cuida de novidades e curiosidades, porque tudo isso nasce da corrupção antiga, pois nada há de novo e estável sobre a Terra. Ensina, pois, a refrear os sentidos, a evitar a vã complacência e ostentação, a ocultar humildemente o que provoque admiração e louvor, busca em todas as coisas e ciências proveito espiritual e glória de Deus. Não quer que a louvem, nem às suas obras, mas que Deus seja bendito em seus dons, que ele prodigaliza a todos por mera bondade.
 
8)   A graça é uma luz sobrenatural e um dom especial de Deus; é propriamente o sinal dos escolhidos e o penhor da salvação eterna, pois eleva o homem das coisas terrenas ao amor das celestiais, e do carnal o torna espiritual. Quanto mais, pois, é oprimida e dominada a natureza, tanto maior graça é infundida, e tanto mais cada dia é renovado o homem interior, conforme a imagem de Deus.
 
       Podemos perceber por esta leitura, o quanto nossa natureza, por melhor que sejam nossas intenções, precisa ser transformada à luz da graça de Deus. Os dons naturais acontecem aos bons e aos maus, mas a graça de Deus é concedida a seus filhos, por meio da fé em Jesus Cristo.
       Na criação, fomos feitos para nossa natureza nos conduzir a Deus, num fluxo natural. Com o pecado, houve um desequilíbrio nesta ordem e hoje, mesmo tendo noção do que é preciso fazer, não conseguimos fazê-lo. É aí que entra a maravilhosa e sobrenatural graça de Deus que nos vem pelo Espírito santo. Ao nos deixarmos levar por esta graça, somos atraídos para o céu e para as coisas do alto, restaurando a ordem inicial de em tudo glorificar a Deus. Aí entra o processo de santificação, pelo qual vamos nos distanciando de nossa natureza carnal e vamos nos tornando cada vez mais semelhantes a Jesus, em seu caráter e ministério.
       Que possamos nos deixar encher do Espírito Santo de forma a cada vez mais nos distanciarmos da carne e nos aproximarmos do céu!