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Amor e sacrifício
    ASSOCIAÇÃO JESSE DE ARAÇATUBA          
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                                   AMOR E SACRIFÍCIO
 
“Somente avançando pelo caminho da penitência e da renovação e pela porta estreita da Cruz, o povo de Deus pode estender o Reino de Cristo. Com efeito, assim como Cristo consumou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho a fim de comunicar aos homens os frutos da salvação”.       Lumem Gentium 8
 
Eu vos exorto, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais em vossoscorpos, como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Este é o vosso culto espiritual”. Rm 12,1.
 
       Paulo nos exorta neste texto a voluntariamente (oferecer-se depende de cada um) nos oferecermos como sacrifício a Deus. Mas o que seria este sacrificar-se?
       No A.T. o sacrifício era oferecido pelos sacerdotes, como reparação pelas ofensas e pecados cometidos pelo povo. Cristo foi a oferta, o sacrifício perfeito pelo pecado (Hb 10,1-4.9-10.14) e à partir dEle não mais seria necessário sacrificar. No vs. 9 de hebreus diz: “ele disse então: Eis-me aqui, venho para fazer a tua vontade.  Ele suprime o primeiro culto, para estabelecer o segundo”. Paulo em Rm 12, diz que oferecer-nos como sacrifício é o nosso culto espiritual, portanto, na nova aliança Jesus estabelece uma nova forma de culto, que vem do coração, verdadeiro, santo, agradável.
       Os sacrifícios do AT foram muitas vezes reprovados pelos profetas, pois eram sacrifícios externos, para cumprir rituais e não vinham do coração (Pv 21,3; SL 50,18-19;  Am 5,21-25; Jr 6,20). Eram acompanhados de pecados e injustiças e desagradavam profundamente a Deus. O Senhor não quer atitudes externas, religiosidade e aparências, mas um coração rendido a Ele, disposto a obedecer e caminhar no mesmo sentimento de Jesus (Fp 2,5).
       Segundo o Novo dicionário Aurélio, sacrifício é “oferta pessoal ou coletiva à divindade, simbolizada na destruição de um bem ou na imolação de uma vítima”; “privação de coisa apreciada”; “abnegação, renúncia, desprendimento”. Sacrificar é: “oferecer em holocausto, imolar como vítima”; “renunciar voluntariamente a; abrir mão de”; “votar-se inteiramente a alguém ou alguma coisa; consagrar-se de todo; dedicar-se com ardor”; “tornar-se vítima de algum interesse ou ideal”; “sujeitar-se, submeter-se”.
       Agora está mais fácil entender o que Paulo queria dizer com verdadeiro culto espiritual e também o que é este segundo culto estabelecido por Jesus!  Segundo o CIC (Codex Iuris Canonici), cân.1191, “o único sacrifício perfeito é o que Cristo ofereceu na Cruz em total oferenda ao amor do Pai e para nossa salvação”. Ora, somos chamados a ser iguais ao Mestre (Mt 10,24-25); nos unindo a seu sacrifício, podemos fazer de nossas vidas um sacrifício a Deus (N.Cat. it.2100).
            Jesus se ofereceu como resultado de seu amor ao Pai e ao povo que iria salvar; o nosso sacrifício é válido nesta base, ou seja, por esta motivação: amor a Deus e em conseqüência ao próximo (Mc 12, 32-33).
       Sintetizando o que estudamos até agora, podemos perceber que há uma dimensão nova no sacrificar: como resultado de um profundo amor a Jesus e em comunhão com Ele, oferecer-se como vítima, isto é, permitir que toda nossa alma seja ‘queimada’, ‘consumida’, em holocausto ao Senhor, até que não haja mais nada nosso, nem mesmo nosso desejo, para que se cumpra a oração do Pai Nosso: “seja feita a vossa vontade aqui na Terra como nos céu”, pois no céu só há um desejo, uma vontade, a do Senhor! Todos lá desejam e querem o que o Senhor quer! O bem a ser destruído é a nossa alma, a vítima somos nós. Como? Através de renúncia voluntária, de abrir mão de nossos direitos e desejos, de gastar-se até o último de nossos dias, até a última gota de sangue, até o último suspiro em favor do ideal de amor a Jesus e por conseqüência na obediência a Ele. Este sacrifício implica em submissão a Ele, em consagração e como diz o dicionário, dedicar-se, votar-se inteiramente a Ele até à morte (Rm 6,11-13).
       Nós somos chamados em Jesus, ao sacerdócio santo, somos pedras vivas nEle e participamos de toda a obra de construção do Reino. Em I Pe 2,4.5, temos: “Achegai-vos a ele, pedra viva, que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. E, como pedras vivas, também vós vos tornastes casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais aceitos por Deus através de Jesus Cristo”. Nós podemos oferecer a Deus por meio de Jesus, toda renúncia, toda consagração, toda sujeição, todo ‘gastar-se’, ou seja, tudo o que implica em morte de nossa alma, como sacrifício. Este é nosso verdadeiro culto. Em meio à lágrimas, adoramos em espírito e verdade, e é isto, estas ações, que trarão o Reino (venha a nós o vosso Reino) e produzirão frutos de justiça na Terra, com conversões e renovação.
       Santa Teresinha tem muito a nos ensinar sobre o sacrificar-se, como um caminho vivo para crescer no amor e de trazer almas para Deus. Dizia ela: “Ah! É a oração, é o sacrifício, que constituem toda a minha força. São as armas invencíveis que Jesus me deu. Muito mais do que palavras, podem sensibilizar as almas, e disso tive experiências muitas vezes”. Ela ensinava que cada pequeno sacrificiozinho era um tesouro que não se devia perder, e que mesmo impossibilitados de fazer grandes coisas, não devemos perder a oportunidade das pequenas coisas, como as humilhações diárias suportadas com amor, o perdão dado a cada oportunidade que aparecer, o suportar com amor ao outro, o renunciar a coisas simples a que temos direito, por amor. Ensinava também que estes sacrifícios podem ser escolhidos ou rejeitados e que cada alma caminha no crescimento à medida da escolha de seus sacrifícios (renúncias e mortes de si mesmo). Dizia: “Compreendi que na perfeição havia muitos graus e que cada alma era livre no responder às solicitações de Nosso Senhor, no fazer muito ou pouco por Ele, numa palavra, no escolher entre os sacrifícios que exige”.
       Santa Teresinha buscava em cada situação diária, no trabalho, no contato com as irmãs do Carmelo, nas provações, nas lutas internas, enfim tudo era motivo de transformar as situações em sacrifícios voluntários. Diz o Sl 4,5: “Oferecei os sacrifícios prescritos e confiai no Senhor!”; e também em Hb 13, 15.16: “Por ele ofereçamos continuamente a Deus sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram seu nome. Da beneficência e da mútua assistência não vos esqueçais, pois Deus se compraz com estes sacrifícios”.
      Eis o que o Senhor tem nos chamado neste dias, para estarmos dispostos a nos sacrificar por Ele e pelas almas. Estamos em meio a uma geração que idolatra o conforto. A tecnologia e o dinheiro estão a serviço de buscar cada vez mais comodidade aos homens. Quase não sofremos mais por questões naturais. Se está calor, temos ar condicionado. Se está frio, temos aquecedores. Temos água encanada, comida pronta congelada, microondas, carro ou transporte coletivo, batedeiras, processadores de alimentos, controle remoto. Não é preciso esforçar-se e nem sofrer. Temos as facilidades de adquirir tudo em prestações ‘suaves’. O slogan destes dias é ‘consumo’ e ‘conforto’. Há uma busca incessante de conforto. Posso ter um carro, mas desejo ter um maior, mais veloz, com vidro elétrico, etc. A casa, precisa ser maior, mais equipada. A cada dia saem novas invenções propondo mais conforto e trazendo embutidas o ‘desejo de consumo’, que nos traz escravidão e dores.
       Este modelo proposto pelo mundo, vai frontalmente contra o modelo de Jesus: sacrifício e renúncia. Se a Igreja nestes dias começar a praticar este modelo de Jesus, certamente causará impacto no mundo, pois as pessoas, embora consumam muito mais do que há 10 anos atrás, estão cada vez mais infelizes e cheias de depressão. O mundo nos treina e a nossos filhos a não sofrer, a não lutar, a não se esforçar. Para que, se posso ter tudo na mão? Não é assim que agem nossos filhos? Ao invés de serem treinados a servirem seus pais e irmãos, são poupados de tudo e vão se tornando cada vez mais egoístas e, portanto, presas fáceis para o deus deste mundo.
       Nós temos nos conformado com este mundo e queremos conforto em tudo. Não temos paciência para esperar resposta à oração. Não podemos ‘perder’ tempo para ouvir de Deus, pois dá muito ‘trabalho’! Não podemos servir ao outro, porque temos sido ‘treinados’ para ser servidos. Não temos paciência para ler a Palavra, pois estamos acostumados a tudo fácil através da TV e jornais e por isso ler algo que nos parece difícil de entender, dá ‘muito trabalho’. Não podemos passar muito tempo de joelhos, pois é desconfortável. Se chove, não podemos sair para reunião. Se a cadeira é dura, ou se está calor, não podemos ficar na reunião, ou até, não conseguimos entrar em comunhão. Nossa cama é tão confortável, como sair dela para orar? E minha distração, como deixar meu lazer (TV e outros prazeres), para servir o Senhor? Refutamos qualquer coisa que se oponha a nossa comodidade. Até para orar, é mais fácil pedirmos a alguém que ore, do que nós mesmos colocarmos o joelho no chão; e aí vem a desculpa: ‘ a oração de fulano é mais forte’. Será que não é preguiça de orar? E jejum, então? Não conseguimos ficar 12 horas sem comida!
       É interessante notar aquele povo sofrido do sertão nordestino: não se vê nenhum com depressão, ou revolta. São pessoas de fé; fé simples talvez, sem muito conhecimento, mas cheia de vida. São acostumados a sofrer. E nós cheios de conhecimento, será que passaríamos pelo que eles passam da mesma forma? Se hoje começasse a grande tribulação e passássemos por grande perseguição, quem resistiria mais facilmente, nós (com todo ‘conhecimento’), ou eles (com sua simplicidade)?
       Irmãos, Deus tem nos chamado para ser treinados. Não sabemos o que há de vir sobre a Terra, mas o Senhor, que tudo sabe está nos preparando. Faz parte deste treino, para não sermos derrotados com o mundo, a disposição para o sacrifício e o sofrimento voluntário.
       Paulo diz em Cl 1,24: “Agora me alegro com os sofrimentos suportados por vós. Em minha carne supro pela Igreja, seu corpo, o que falta às tribulações de Cristo”. Oh, que benção, que disposição! Dispor-se a passar, em favor da Igreja, o que Cristo ainda não sofreu! Isto produz vida! Isto traz almas para o Reino de Deus! Contra o amor, não há armas! Dispor-se a oferecer cada pequeno sacrifício a Deus, pela salvação das almas!
             Ao invés de reclamarmos, ofereçamos a Deus, por meio de Jesus, sacrifícios de louvor! A cada dia, a cada pequena situação, escolhamos voluntariamente nos humilharmos, morrermos por amor.
       Irmãos, nestes dias, o inimigo tem nos levado à morte, através dos ‘banquetes’ que nos oferece. Assim como o pescador, quando quer pegar um peixe, fica ‘cevando’ o lugar, isto é, vai dando bastante alimento, até o dia em que joga o anzol e pega vários! O diabo está nos ‘cevando’ através do conforto e prazeres que nos oferece. Vocês já pescaram em pesque-pague? Os peixes se alimentam tão facilmente, nem precisam sair à busca de comida, que são lentos, gordos e fáceis de pescar. Estão sendo engordados para a morte. É o que satanás está fazendo com o mundo, e infelizmente, muitos dos nossos estão lá, no pesque-pague do mundo, confortáveis, porém podem ser fisgados a qualquer momento! Ah, se os peixes soubessem que aquelas facilidades são parte da estratégia do dono para tornar mais fácil sua morte! Não podemos falar com os peixes, mas podemos fazê-lo com o mundo!
       O diabo nos ilude e atrai para a perdição como fez com Eva, oferecendo um fruto que era ‘agradável aos olhos’. Ilusão, segundo o dicionário, é ‘engano dos sentidos ou da mente, que faz que se tome uma coisa por outra, que se interprete erroneamente um fato ou sensação; falsa aparência’. Infelizmente temos sido enganados, iludidos pelo maligno.
       Amados, é tempo de sair do engano, da ilusão dos bens materiais, do amor ao mundo. Uma das formas que o Senhor tem nos ensinado é o sacrifício e o sofrimento. Busquemos, como santa Teresinha, estas dádivas, como tesouros oferecidos a nós por Deus.  A cada dia o Senhor tem trazido mais luzes sobres este assunto. Vamos buscá-Lo e naquilo que Ele tem nos dado, sejamos fiéis e obedientes, para que não sejamos condenados com o mundo, como diz a Palavra em 1 Co 11,31.32: “Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, julgados pelo Senhor, somos corrigidos para não sermos condenados com o mundo”.
       Aproveitemos estes dias e voltemos nosso coração ao Senhor, oferecendo nossas vidas em sacrifício vivo, santo e agradável, longe do amor ao mundo, como diz João em 1 Jo 2, 15.16: “Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Em alguém que ama o mundo não mora o amor do Pai.  Pois tudo que há no mundo – concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho da vida – não vem do Pai mas procede do mundo”.
 
 
 “É verdadeiro sacrifício toda ação feita para se unir a Deus em santa comunhão e poder ser feliz”.
                                                                                                          Santo Agostinho
 
 
 
 
 
 
                                                                                                                    Outubro/2002