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As Armas Espirituais - parte 2

As Armas Espirituais ( parte 2 )

 

"Deus não quer impor o bem, Ele quer seres livres...Para alguma coisa a tentação serve. Todos, com exceção de Deus, ignoram o que a nossa alma recebeu de Deus, até nós mesmos. Mas a tentação o manifesta, para nos ensinar a conhecer-nos, e com isso, descobrir-nos a nossa miséria, e nos obrigar a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou."
Orígenes, or. 29

"Revistam-se de toda armadura de Deus, para que possam permanecer firmes contra as ciladas do diabo." Ef. 6,11
Um soldado quando partia para uma batalha, devia estar bem armado, tanto com armas de defesa quanto de ataque, sob pena de ser ferido e perder a luta por falta de armamento adequado. Paulo quando escreveu este trecho, tinha em mente a figura dos soldados, tão comuns em sua época, e exorta, ao usar o termo "panoplia" onde se traduz armadura (que significa uma armadura completa), que devemos usar todos os recursos bélicos a nossa disposição, para que tenhamos vitória no combate.
Paulo descreve os itens da armadura, na mesma ordem em que eram vestidas pelos soldados. No tempo de Paulo as armaduras consistiam de escudo, espada, lança, capacete, e armadura das pernas (cobria a coxa até os joelhos). Todas estas armas de ataque e defesa, tinham a finalidade de permitir ao guerreiro não recuar, ao invés de fugir derrotado. O trecho "fiquem firmes", no grego é "istemi", que significa oferecer resistência, impedir o avanço das trevas, lutar "sem recuar", quando o diabo vier com suas ciladas ( methodeia, no grego, que significa astúcias, planos, esquemas), que em linguagem militar são "estratégias" para conseguir seu alvo. Somente se estivermos devidamente aparelhados poderemos resistir e mais ainda, avançar na conquista do reino espiritual.

"Portanto, tomem toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e, havendo feito tudo, permaneçam firmes." Ef. 6,13
Não há nada que o homem possa fazer para lutar contra um adversário não-humano. Nada que venha dele mesmo pode servir nesta batalha. O homem deve despojar-se de si mesmo, despir suas roupas (atitudes humanas), e revestir-se de armas sobrenaturais, de Deus. Estas armas estão à nossa disposição, esperando para serem "tomadas", ou seja, estender a mão e tomar posse dela. Paulo dá um ordem: tomem , isto é, apropriem-se, tomem posse do poder espiritual oferecido por Deus. Os antigos soldados, quando não estavam devidamente preparados, condicionados fisicamente, disciplinados e treinados de forma adequada, não suportavam o cansaço e o serviço duro da vida militar; logo queixavam-se do peso da armadura e alguns recebiam permissão para tirar alguma parte da armadura, ou até toda ela. E assim muitos eram mortos ou feridos, por não estarem com a proteção adequada. Por isso Paulo insiste na colocação de toda a armadura e no verso 10, insiste em que antes da colocação da armadura deve-se existir um fortalecimento no Senhor, para que possamos agüentar o peso das armas. Muitos cristãos querem batalhar sem participar dos treinamentos: é derrota certa. Cada acontecimento de nossas vidas é um treino do Senhor para que aprendamos a lutar e não sejamos derrotados "nos dias maus". Devemos dar constante ações de graças ao Senhor por cada luta que enfrentamos, pois elas estão nos ensinando e fortalecendo ( SL 143,1 ). Somente com este preparo da parte do Senhor, e com o uso adequado da armadura, poderemos "fazer Tudo", isto é, vencer de acordo com o propósito de Deus para cada um e ainda continuar inabaláveis, conservando sua posição de vitória.

"Estejam, pois, firmes, cingindo os lombos com a verdade, e vestindo a couraça da justiça." Ef 6,14
Paulo continua a insistir para que estejamos firmes, mostrando que aquele que é covarde, tímido, dúbio, que é como a onda do mar impelida pelo vento (Jz 7,3; Tg 1,6-7), não serve para a batalha. Devemos lembrar que o Espírito que possuímos não é covarde, ao contrário, é forte, ousado, cheio de poder e amor (1 Co 2,12 ; 2 Tm 1,7). Davi quando foi para a batalha contra Golias, não era melhor que os outros homens de Israel, ao contrário era tão desqualificado para a guerra, que nem fazia parte do exército e tão pouco sabia usar armadura (1 Sm 17,38-39), porém tinha uma grande diferença: possuía o Espírito de Deus, que lhe fora concedido mediante a unção ministrada por Samuel (1Sm 16,13). Esta unção fez toda a diferença. Através do Espírito, Davi passou a ter ousadia, coragem e a fé necessária para vencer o inimigo. Esta firmeza, de que Paulo fala, é a mesma de Davi, concedida pelo Espírito. É uma grande lição para nós, que devemos depender totalmente de Deus e saber que a luta não depende de nossa força, mas do quanto o Espírito nos possui, é por isso que o Senhor exorta a todos que entrem em guerra (Jl 4, 9-10). 
Depois de assumir esta posição de firmeza no Senhor, vamos vestir a primeira peça da armadura, que é o cinturão da verdade, uma arma de defesa. Nas armaduras antigas, este cinto, zoma no grego, era posto em volta da cintura, útil para apertar a armadura em volta do corpo, mas também para sustentar as armas (espadas, adagas, etc.), que ali pudessem ser penduradas. Paulo refere-se a este cinturão como "a verdade", assim como o profeta Isaías (Is 11,5). Isto nos mostra que não é um simbolismo aleatório, mas um grande ensino a respeito de como defender os nossos "rins", que no contexto bíblico, é a sede dos instintos, dos sentimentos mais profundos, até do inconsciente. A verdade, pois, guarda o que há de mais íntimo no homem e ainda sustenta as armas de ataque, além de manter no lugar a armadura, para que nenhuma outra peça caia. Mas o que é a verdade? Jesus responde: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6). Jesus é a Palavra e a Palavra é Jesus (Jo 1,1), portanto se Jesus é a verdade, a Palavra é a verdade. A Palavra nos revela todas as verdades de Deus, isto é, seus princípios eternos e imutáveis, a realidade espiritual que nossos olhos carnais não conseguem enxergar. Nós devemos pois, nos cingir, nos vestir, destas realidades espirituais que são a verdade a nosso respeito e a respeito de Deus e Sua soberana forma de agir. São estas verdades que nos permitem sustentar as armas com que vamos atacar e ainda que mantém apertadas, seguras em nós as outras peças da armadura. Portanto o primeiro passo é conhecer a verdade. Estudar a Palavra e verificar tudo o que ela diz a meu respeito. Por exemplo, é já uma realidade espiritual, uma verdade eterna, que nós ressuscitamos com Cristo e nos assentamos com Ele nas esferas celestiais (Ef 2,6). Ao "vestirmos" esta verdade, assumimos que já não pertencemos mais a este mundo, mas estamos com Ele nas esferas celestiais e dali é que lutamos e exercemos nossa autoridade. Esta verdade vai sustentar, segurar, nosso ataque ao inimigo e ao mesmo tempo que anula toda resistência vinda de nosso inconsciente e que muitas vezes nos impele para baixo, para o mundo. Muitas pessoas não conseguem deixar vícios ou outros prazeres do mundo e outras há que são governadas por seus instintos e desejos; ao revestir-se desta verdade, pela fé, pela revelação do Espírito, estes desejos já não poderão dominá-la. Veja, uma pessoa dominada por seus instintos, tornar-se-á alvo fácil do diabo. Ele tratará de suscitar nela a ira, a luxúria, a ambição, a culpa, a inferioridade, ou qualquer outra coisa que a domine, e logo ela será ferida. Também aquela que não conhece a verdade, será alvo fácil dos enganos e embustes do diabo. Por não estarem alicerçadas na verdade, muitas entraram em heresias, distorcendo a Palavra de Deus para sua própria perdição e daqueles que as seguem. Já vi muitos servos de Deus, já antigos, desviarem-se por abandonarem a verdade. Portanto, a base para segurar as outras armas e sustentar as armas de ataque é o conhecimento da verdade ( Jo 8,32; Os 6,3; Os 4,6a ).
Não cessemos, pois de estudar e conhecer a Palavra, não um conhecimento mental, que não produz vida, mas o conhecimento revelado, o "rhema" de Deus, escrito pelo Espírito em nossos corações e capaz de nos manter à salvo dos enganos do diabo!