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As Armas Espirituais - parte 6

ARMAS ESPIRITUAIS ( parte 6 )

" A fé é uma adesão filial a Deus, acima daquilo que sentimos e compreendemos. " 
Novo Catecismo, it. 2609, pag.587
" Tomai sobretudo o escudo da fé, ele vos permitirá apagar todos os projéteis inflamados do maligno." (Ef. 6.16).
Depois de vestir todas as outras peças da armadura, o fiel não pode esquecer, isto é, deve ter como algo de suma importância se guarnecer com o escudo da fé. Segundo o original grego, o escudo é o "thureos" derivado da palavra porta (thura) , um escudo grande cuja forma parecia uma porta. Era usado para soldados fortemente armados e era tão grande que protegia o corpo todo do soldado. Conta-se que as mães gregas diziam a seus filhos: " Volta para casa e traz o escudo, ou volta nele"; isso porque o escudo era tão grande que podia transportar um cadáver como se fosse uma maca.
Daí podemos perceber a importância que Paulo dava a esta parte da armadura. Era uma proteção que , bem manejada podia impedir que as armas do inimigo atingissem o alvo. O escudo é uma proteção até para as outras peças da armadura, pois quando não funciona é que os golpes chegam ao corpo. Do mesmo modo a fé protege todas as outras peças e assim garante a vida do soldado. Só quando abrimos a área de proteção, ou seja, deixamos de usar a fé é que os golpes do inimigo conseguem atingir outras peças da armadura e por conseguinte ferir o soldado.
Os dardos inflamados eram dardos imensos, com uma ponta de ferro, de forma que pudesse perfurar a armadura do soldado e atravessar-lhe o corpo; munidos de uma mecha em chamas, que mesmo que o escudo o aparasse, as chamas obrigavam o soldado a desfazer-se do escudo e assim ficar sem defesa num próximo ataque. Os grandes escudos eram recobertos de couro, que não queimavam facilmente e podiam apagar os dardos inflamados.
Sabemos que o inimigo tem despejado cada vez mais dardos inflamados, com o objetivo de nos ferir, ou nos fazer abandonar as armas para que possamos ficar cada vez mais indefesos. Os dardos são as tentações para nos levar ao pecado e assim nos levar à separação de Deus, tornando-nos fracos e portanto prezas fáceis. Assim como numa guerra o inimigo tenta distrair ou criar emboscadas que não permitam ao exército usar suas armas de defesa, o diabo está constantemente tentando distrair-nos para que não percebamos seu ataque verdadeiro e assim não nos defendamos. 
Uma destas táticas é disfarçar a questão do pecado. O inimigo usa um novo nome que "mascara" a situação pecaminosa de maneira que vamos tolerando-a, até que a chama do dardo consuma todo o escudo e as outras armas. Muitas vezes o pecado passa a ser chamado de "problema" pessoal, "fraqueza", "personalidade", e portanto, não é combatido. Uma pessoa que tem um pecado precisa ser liberta e disciplinada, uma pessoa que tem um "problema", passa a necessitar de consolo, ajuda, às vezes até de pena. Muitas vezes o homossexualismo é tratado como opção de vida (portanto não necessita de mudança), o adultério passa a ser justificado por um casamento quer não vai bem, a fornicação por "necessidades biológicas", a desonestidade, a mentira, a rebeldia, o orgulho, a inveja, a negligência, os vícios ( são dependências físicas ), as brigas, etc., são facilmente justificadas até psicologicamente. Ao invés de libertação e disciplina, usamos de "aconselhamento" ( aquele que queremos ouvir), que no mais das vezes servem para esconder a culpa, ou lançá-la sobre os outros; temos a tendência de culpar nossos pais, grupos, circunstâncias, por nossos erros, como Adão culpou Eva por ter comido o fruto proibido (Gn 3,12).Temos que nos confrontar com nossos pecados, sair da posição de vítimas, arrependermo-nos das escolhas que fizemos que terminaram em pecados, renunciar a eles e dar passos para uma mudança de vida, do contrário estaremos sempre oferecendo combustível para as chamas dos dardos inflamados.
Por outro lado, como usar o escudo da fé? Fé, explica Paulo em HB 11.1, "é um modo de possuir desde agora o que se espera, um meio de conhecer realidades que não se vêem". Ora, isso exige total dependência e confiança em Deus, e não em nossas obras ou capacidades. Quando agimos por nosso esforço, confiando em nossas capacidades, perdemos a ação do Espírito, deixamos de "andar no Espírito, para andar na carne" (Gl 5,16-18), pois O Espírito 
Santo se recusa a agir em qualquer outra base que não seja a fé. Quando colocamos nossa mão, Deus retira a dEle. Qualquer atitude que tomemos, por melhor que seja nossa intenção, senão vier da fé, não encontra respaldo da parte de Deus. Diz a Palavra que "tudo que não provém da fé é pecado" (Rm14, 23b).
É importante lembrar que fé não é sentimento, não depende do que sentimos e nem das emoções. Ninguém "sente" fé, pois fé é um dom de Deus, uma certeza interior que independe das circunstâncias, de que Deus fará o que prometeu e que nos faz andar não pelo que vemos, mas pelo que cremos (2 Co 5,7). A incredulidade é o oposto da fé e a causa da nossa queda (Hb 3,12). É a expressão da nossa falta de confiança nEle. Será que Ele vai cuidar das minhas coisas, do meu grupo, dos meus filhos, dos inúmeros meus, que nada mais significam senão que não entreguei nada e que portanto Ele não está no controle de minha vida?
Usar o escudo da fé, é abandonar-se totalmente à providência divina, descansando nEle, retirando toda auto-suficiência que possa existir em nós. É negar-se a si mesmo e andar após Ele, não na frente e nem ao lado. É um reconhecer nossa fragilidade e total incapacidade para agir em qualquer situação e assim descansar e esperar nEle, de forma a obedecê-lo em quaisquer circunstâncias. Sem este abandono, não conseguiremos ouví-Lo para seguir Sua ordem. Muitos se angustiam achando que têm que fazer algo. Realmente, a fé não pode ser morta, sem obras, pois Deus não quer preguiçosos em Sua obra; a diferença é que a ação tem que partir dEle. Qualquer ação originada em nós só faz gerar um "Ismael" em nossas vidas (Gn 16, 1-3,15). Ismael não foi o filho da promessa, foi uma tentativa de Abraão de "ajudar" a Deus realizar Sua promessa. Até hoje os judeus têm problemas com o descendentes de Ismael (árabes).Quando tentamos "ajudar" o Senhor, só arranjamos problemas e atrasamos a obra de dEle em nossas vidas.
É preciso que nos confrontemos com o pecado ( dardos inflamados) e usemos o escudo da fé ( rendição total a Deus pela confiança nEle). Vemos isto claramente em Caleb e Josué, em oposição aos outros espias, que justificaram sua incredulidade e covardia e colocaram a culpa em Moisés (Nm 13,1.25-14,9). Foi a fé que os fez permanecer e entrar na terra prometida. Assim conosco, é a fé que nos guardará de recuar diante dos "gigantes" e desta forma permanecer na guerra até entrar na terra prometida.
Que o Senhor nos abençoe para que possamos realmente aderir a Ele como filhos, acima do que sentimos ou compreendemos!